Espero a tua visita

Com as mãos sobre a porta, espero a tua visita.

Havemos de rir dos poetas e de seus trejeitos curiosos

e indispensáveis:

prevenir os cactos da acidez da beleza que espinha.

E então -Ah, como te espero!, hei de ficar rico com o aluguel dos meus sorrisos.

Nem que eu tenha que fingir-me enfermo, ou o meu poema um espasmo longo (quase alexandrino), espero a tua visita.

Nem que eu tenha que fazer promessas:

ir com as mãos a descer os degraus;

como um velho alquimista, hei de criar fumaças.

Como podem as paredes conhecer caminhos? espero a tua visita e farei útil as janelas umas para as outras para que um dia todas olhem por nós.

Eu, louco refeito, e que remoçando louco fico mais feliz, te espero;

tu, Esperança, prima dos poetas, das irmãs mais velhas, a mais moça,

se perguntas por mim

vão lhe dizer:

passa bem, mas espera a tua visita loucamente.

Desconfia do sol ao meio-dia,

mas passa bem.