Confinamento



Não contenho a sensação,
vem de longe.
Estranhamente estamos descobertos.
Somos sós na inquietude.
Você perdeu, eu perdi.
Sua derrota vai longe,
a minha desponta cada manhã.
Seu prazer consome a noite,
o meu a acariciar o fim.
Somos um só.
Você veio na falta
e eu não faço falta.
Você tem muito para a vida
e eu nem vida possuo.
Você fez a derrota,
eu fui bem despido de vitória.
Você laça minha mão,
eu me dou vago.
Você cerca meu corpo,
eu, apenas cativo sua presença.
Então nos soltamos um pelo outro.
Nos olhos o ontem,
na boca o beijo,
nos braços os abraços;
mas no presente, cada um tem o seu.
Você me liga,
eu me nego.
Nos afastamos sem o pudor,
sem presente,
apenas um do outro ausentes,
cada um preso a sua derrota
que há bem pouco, quase foi derrotada
pelo, também quase, nascer do amo.