Viúva-Negra

"Pois armadilhas não parecem armadilhas"

Envolvi-me em sua bruma perturbadora,

Suas mentiras soavam como sua loução.

Acreditei em tudo, fiel como um cão,

Nunca esperando pela dor consumidora.

Iludido como fui, cortejei-a como poeta.

Deleitei-me em seu afago de garota.

Amei-a, ignorando todo e qualquer alerta,

Sendo apanhado em sua armadilha ignota!

Sem cólera, ela me espancou de maneira fria.

Eu bem imaginava, ou ao menos deveria:

Ela queria a minha agonia, o meu desespero,

Ver-me chorar, abatar-me como cordeiro!

Eu fui completamente consumido, dilacerado!

O veneno ardia como o fogo do abismo.

Aquele amor, uma vez antes venerado,

Foi o alimento tosco de seu aracnísmo!

Ela me mastigou. Cuspiu fora o sobejo,

Só aí percebi: Eu nunca lhe fui importante.

Deprimido, à beira da alcova, agora percebo:

Minha tristeza não se deve à dor excrucitante.

Se deve ao fato de ter sido magoado

De maneira tão inumana e tão gritante,

Torturado para agradar seu desejo,

E mesmo assim, mesmo apunhalado

Sentir hoje a falta do calor de seu beijo!

Raul Brasil
Enviado por Raul Brasil em 10/07/2020
Código do texto: T7001373
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