Viúva-Negra
"Pois armadilhas não parecem armadilhas"
Envolvi-me em sua bruma perturbadora,
Suas mentiras soavam como sua loução.
Acreditei em tudo, fiel como um cão,
Nunca esperando pela dor consumidora.
Iludido como fui, cortejei-a como poeta.
Deleitei-me em seu afago de garota.
Amei-a, ignorando todo e qualquer alerta,
Sendo apanhado em sua armadilha ignota!
Sem cólera, ela me espancou de maneira fria.
Eu bem imaginava, ou ao menos deveria:
Ela queria a minha agonia, o meu desespero,
Ver-me chorar, abatar-me como cordeiro!
Eu fui completamente consumido, dilacerado!
O veneno ardia como o fogo do abismo.
Aquele amor, uma vez antes venerado,
Foi o alimento tosco de seu aracnísmo!
Ela me mastigou. Cuspiu fora o sobejo,
Só aí percebi: Eu nunca lhe fui importante.
Deprimido, à beira da alcova, agora percebo:
Minha tristeza não se deve à dor excrucitante.
Se deve ao fato de ter sido magoado
De maneira tão inumana e tão gritante,
Torturado para agradar seu desejo,
E mesmo assim, mesmo apunhalado
Sentir hoje a falta do calor de seu beijo!