Madrugada.

Tem gente que pensa

Que a gente quer um monte de coisas

Que no fim das contas

Nem chega a importar tanto assim

Uma hora você se pega pensando

Que se apegou a um enorme nada

Quando olha pros lados

Olha pro espelho

Pro passado

Pra si

As coisas que pareciam desimportantes

Tem um valor diferente

Então você percebe que queria mesmo

Era aprender a rir de piada sem graça

Um copo d'água na hora da sede

Um olhar despretensioso

Que lhe transmitisse a sensação

Que alguém sente alegria

Quando vê você

Um colher de xarope, na hora da tosse

Uma mão na testa, se acaso sentisse febre

Alguém que puxa um cobertor e te cobre

Alegria de festa sem motivo

Pois, muito mais do que se pensa

Todo mundo deseja apenas

Que a sua presença seja esperada,

desejada e benquista

A gente não quer requinte

Deseja um olhar atento

E um par de ouvidos bem ouvintes

Alguém que conte pra gente

Como foi a sua infância

E diga também da saudade

Que sentiu durante a distância

E o que foi que fez lembrar a gente

Em alguma coisa que viu pelo caminho

E no quanto doeu a nossa ausência

Mais importante que o diamante

É sentir

E Principalmente

Perceber que faz sentir

Saudade

Um certo orgulho bobo e sem razão

Confiança

Um olhar de lealdade na janela

Uma ida ao portão

Vontade de estar junto

Um amor sem explicação

Saudade do abraço

Desejo de respeitar

E um querer

Que sente um vazio quando quer

E quando quer

Não quer deixar de querer

São essas as coisas difíceis

de perceber a importância

Até que aqueles olhos

Azuis, castanhos ou verdes

Não mais sejam vistos

de manhã, de tarde, de noite

ou de madrugada

Nem mesmo à distância

Então você há de perceber

Que tudo mais

Não vale nada.

Edson Ricardo Paiva.