Amor Sem Poesia
O túmulo, no qual em sonho me ponho a dormir
Inquieto, sussurra uma noturna elucubração:
"De que vale bela poesia como esta?"
— Perguntou-me a terrível assombração.—
"De que vale poesia bela como esta
Se para tua amada nada escreves?!"
Ó danação! Te responderei sem entreves,
— Porque o túmulo sempre há de entender o poeta.—
Minha poesia, ó túmulo, é de uma tristeza indiscreta:
Só consigo escrever quando profundamente triste!
No entanto a minha amada, minha doce donzela
Me afasta do enriste de tão tenebroso ofício!
Assim sendo, para mim parece vantajoso sacrifício:
Ela me rejubila, faz sentir-me feliz e estonteante!
Sinto a ventura de sua bonança qual infante e
Em seu sorriso, em sua pele me ponho a divagar
Tanto, que da angústia me esqueço o suplício, ah!
A maior prova de amor, para mim, poeta dos infernos,
É, para a pessoa que, amada tendo como minha,
Não escrever uma única linha em meus terríveis cadernos!