Alimento

É preciso beber da saliva do amor

que brota na boca vagabunda,

da língua suja, do suco regurgitado que sobe do estômago

em apetite guloso e oposto,

onde espumam relíquias repisadas quase líquidas,

que o amor engole e não mastiga.

Enfiar-se inteiro e comer da boca,

dentro da garganta estreita e cultuada,

cemitério de nojos e populações de homúnculos anônimos.

Comer o que há de mais farto,

pedaços de cadáveres, serifas de versos gordurosos

destemperados da poesia dos quinze anos.

É preciso comer os restos de príncipes

que o amor engoliu crus e de pernas abertas,

lamber a pele verde e verrugosa da verde sapiência

que o amor guardou no corpo sob escamas secas

e abocanhar o que não dissolveu seu corpo passado

o que a língua agora expulsa em jatos.

Dragar do corpo agudo e passado

o que amarga na boca, novelas que revolvem azedas,

memória em conserva e cristais doces,

nesgas de carne, quadris maturos

onde frutos vingaram secos e impuros.

É preciso comer do amor as flores que despertaram podres.

Elohim Cândido Brasil
Enviado por Elohim Cândido Brasil em 23/06/2020
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