Alimento
É preciso beber da saliva do amor
que brota na boca vagabunda,
da língua suja, do suco regurgitado que sobe do estômago
em apetite guloso e oposto,
onde espumam relíquias repisadas quase líquidas,
que o amor engole e não mastiga.
Enfiar-se inteiro e comer da boca,
dentro da garganta estreita e cultuada,
cemitério de nojos e populações de homúnculos anônimos.
Comer o que há de mais farto,
pedaços de cadáveres, serifas de versos gordurosos
destemperados da poesia dos quinze anos.
É preciso comer os restos de príncipes
que o amor engoliu crus e de pernas abertas,
lamber a pele verde e verrugosa da verde sapiência
que o amor guardou no corpo sob escamas secas
e abocanhar o que não dissolveu seu corpo passado
o que a língua agora expulsa em jatos.
Dragar do corpo agudo e passado
o que amarga na boca, novelas que revolvem azedas,
memória em conserva e cristais doces,
nesgas de carne, quadris maturos
onde frutos vingaram secos e impuros.
É preciso comer do amor as flores que despertaram podres.