CORPO AO ESPELHO
Sempre que te sinto cravo dentes
no fundo poço das ausências
navego nervos ávidos tições
o inquieto alojado sob a pele
unhas intumescidas à ira
somente nudez réstias desejos
a borrifar o céu arterial.
Dentro o fogo agita os dedos
puídos de mãos em concha
vergonha sutil vontade de doar-te
surdo-mudo afeto de pele sobre pele
singelo território de cintilar
mãos boca colo ventre falus vulva
lânguida cerzidura nos lençóis.
Quando o sentir grava boca olhos unhas
saber exercitado de há tanto e muito
entrego-me ao impudico jogo do querer
e ao rubro espelho inquieto ansioso
forasteiro aceno de nudez e esperas
mãos boca ao colo ventre vulva falus
doce-amargo sangue espólio. Esperma.
MONCKS, Joaquim. A MAÇÃ NA CRUZ. Obra inédita, 2021.
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