“Aos Poetas Que Fingem Não Serem Meros Mortais/Soneto da Partida”
“...Quando o desencanto bate a porta é hora do encantado partir pela porta dos fundos.
Sem alarde, sem palavras, apenas partir.
Dizem os poetas, que o amor tudo supera, sublima, perdoa.
Sentem os mortais, que os poetas mentem para suportar a dor do desamor, do abandono, da escolha do outro por descarta-los.
Sabem ambos mortais e poetas, que o amor dói e que o amar é arder na chama que não se vê, é penar com a doce e sublime ferida, que não sentimos doer.
E ao tomar lugar patente na relação, o Desencanto faz questão de mostrar aos amantes, as dores de amores e seus efeitos, o quanto houve de renúncias e defeitos, de ambos os lados.
O desencanto é cruel porque nunca foi amado!
Não sabe, das delícias e dos “pecados” do amar sem medidas.
O desencanto não sabe sorrir, apenas mostra os dentes.
O desencanto é irmão do descontente, filho do dessabor, vem acompanhado sempre do descuido e abandono ao outro.
O desencanto provoca o descarte daquilo que era amor, do que era cumplicidade.
O que seria do desencanto, sem o encantado abandono?”
(“Aos Poetas Que Fingem Não Serem Meros Mortais/Soneto da Partida”, by Carlos Ventura )