RANHURA DOS JAVALIS

O amor desfolha a alma até chegar na sua alma,

então, com a calma das brisas, aconchega um beijo,

ficando assim até o mar se enjoar.

O amor depõe o medo, desarma o frio,

desarma a razão, o calor, pulsar alado,

destrona cada suor inibido, ou calado,

faz a noite desfolhar e se matar de rir.

O amor, por vezes farsante, por vezes deserto,

se esquece a que veio, a que fará, a que legará,

desparafusa dúvidas com a ranhura dos javalis,

revira do avesso os nódulos do medo, da fé,

se encanta ao se ver diante de si mesmo.

O amor, se é que há amor,

se purga no banho-maria do talvez,

enverga o aço da solidão, arremata as senzalas do afligir,

traz a languidez de Deus ao colo endiabrado do gostar.

O amor, envaidecido e repleto de azuis,

tira do seu bojo cantigas lindas de ninar,

atiça sem pudor cada viés amotinado,

espreguiça solene as fronhas puídas da paixão.

O amor se arrepia ao sentir o abraço do perdoar,

se diz rendido quando tudo se fizer fuligem sem dono,

se faz eterno se o tempo refletir seu próprio olhar.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 18/06/2020
Código do texto: T6981287
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