FORMA DA ÁGUA
Explico, simplismente, a forma da água
Pelos teus olhos: é transparente e calma
Numa hora transborda, noutra detém as lágrimas
Num dia ama, noutro já guarda mágoa.
Tem um tom esverdeado, uma cor clara
Azul quando é feliz, ou quando não é nada
Guarda alguns segredos, outros não guarda
Traz um tanto de medo e também acalma.
Ao prender-se nela, não tem quem saia
É como um fundo de rio, esconde arraias;
Se não cuidas, te fere, que quase não sara
E se tentas fugir, ela te agarra.
Pode matar-me a sede, e às vezes me mata
De dia tão verde, e à noite se apaga;
Se lançardes rede, pode ser que caias!
Não morres de sede, nem morres na praia.
O que falo dos olhos, falo da água
Não é uma hipótese, nem uma metáfora
É olhar que cura, água que lava,
Cor clara, escura, mistura na água.
Não se atormente com minhas palavras
Os olhos mais lindos são estes, são água
Que banham as pedras, em que o corpo nada;
Não morro de sede, nem morro na praia.