Madrugada

Vai nascendo o sol...

A manhã expande-se gloriosa desde o Rio à Serra da Arrábida e

inunda o vasto casario do Barreiro à Moita, ao Lavradio, ao Seixal!

Daqui, avisto o mundo – o Feijó, as matas do Alfeite, o Laranjeiro,

e até esse resquício do Passado, a casa onde vivi

contigo

.

A manhã entra pela janela aberta! E o meu trabalho

avança... com esse genuíno prazer de

um entretenimento de criança

.

– É porém veloz a marcha do carro solar –

Num instante – o sol se encontra no seu zénite

E da janela aberta vem a luz encandear-me –

Faz-me mal, faz-me doer!

E o calor...

Oh, o calor... subtrai-me

as energias ...

.

– É preciso então, descer as persianas!

.

... Mas, agora, o ar não entra...

E fico nesta mortiça penumbra que me faz

triste...

...Sinto estalar as madeiras...

o que tanto me arrepia...

Foge-me a inspiração

.

Oh, oh, há refúgio na cozinha –

o mel, e a caixa

dos biscoitos,

o café, o chá, as torradas!

Os queijos franceses, e os de Azeitão (saturados

de gordura)

.

– Por que não é sempre madrugada?

Por que é tão breve?

– Porque não dura

.

© Myriam Jubilot de Carvalho

7 de Outubro de 2005

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Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 16/06/2020
Código do texto: T6978829
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