PORTA E SOFÁ
PORTA E SOFÁ
Chico começa falando sério
João quer acabar com a saudade
Tom olhando e ouvindo o sabiá
Vinicius tomando uma em Itapuã.
Eu, sentado em um sofá
Olhando a porta escancarada
Como que pedindo para você:
Volta! Volta! Volta! Volta!
O sofá lembra sua bunda linda
Sentando graciosamente
Com uma delicadeza e cuidado
Para não afetar a perfeição.
Lembra também brincadeiras sexuais,
Lembra tardes de leitura ao seu lado,
Lembra seu sorriso e suas risadas
Lembra controles remotos sob o sofá
E eu procurando de cara no chão,
Como que rezando para você.
A porta então, ah essa porta!
A porra dessa porta é culpada.
Deixou você entrar e sentar
Nesse sofá agora vazio,
Como se os dois, porta e sofá,
Houvessem combinado
Uma armadilha ao meu coração.
Como em um alçapão, entrei.
Nos acomodamos no sofá e,
Como um bicho que vai morder
A isca, olhei curioso para você.
Pior ainda, você saiu e voltou
Inúmeras vezes. A cada retorno,
O coração batia forte,
A testosterona subia
A natureza masculina denunciava
Minhas vãs tentativas
De ignorar sua influência.
Enfim, mordi a isca,
Ou melhor, mordemos.
Eu havia sido seu chamariz
E você me mordeu também.
A diferença foi que,
Eu insaciável por você
E você saciada de mim.
Me resta agora olhar
A porta aberta, o sofá vazio.
Bati a porta com força,
Arrumei as almofadas
Naquela merda de sofá,
Calei João Gilberto, Chico,
Tom e Vinicius.
Paulo Miorim 09/06/2020