Outra vez



Outra vez vou deixar a janela aberta,
na esperança que por ela entre,
de mansinho, seu sussurro de saudade.
Por mais uma vez esta vila deserta
ficará em silêncio.
Sua voz há de vir, pelas noites,
ao encontro da minha insônia.
Mais um momento de vigília, pela ausência,
mais uma cautelosa espera.
Outra vez a janela se tranca;
mais um grito de amor
que a saudade do peito arranca.
Outra vez tento o sono,
tentando calar a lágrima
que rola, rola sem barulho,
agita, fere meu orgulho.
Por mais uma vez mudo minha vida,
digo que não te amo.
A noite vai, o dia vem;
esta tentativa se foi também.
Outra vez te busco nas gavetas,
em coisas que você deixou;
encontro seu sorriso.
Outra vez me alongo pelo paraíso,
pelos pertences que foram nossos,
pela saudade que ficou.
Por mais uma vez,
outra vez mais,
tento calar a lágrima,
tentando mudar tudo outra vez.