Apenas lamento


Passastes, passei.
Pelas manhãs, o abandono,
a solitude sem tréguas,
enquanto tu
ficastes neutra, sem os rumores,
sem os dissabores
das perdas.
Encontrastes, encontrei
os caminhos escuros, indefinidos,
enquanto fostes em busca,
ao encontro das relíquias que a vida tem.
Amastes, amei,
com candor, com a paz refletida nos olhos,
enquanto amastes sem saber a quem,
sem o rouxinol dos pássaros.
Magoastes, magoei
minha própria vida,
fazendo oferenda desapercebida,
vagueando em alcovas desertas.
A quem mais poderias magoar,
senão a mim,
com seus lamentos sem fim
e suas hipotéticas razões de vida.
Fostes, fui
aquele que passou,
aquele que bem o sabes,
te ama e por amor se acabou.
Fostes e para sempre o será,
a eterna dádiva de Deus,
a doce menina dos meus dias,
de todos os sonhos meus.