Verão





Sou fruto feito de paixão.
Tenho no peito a saudade,
nas mãos a pena que lhe fala
das dores que senti,
sabendo que o amanhã “viria”.
Hoje, de ontem, só lembranças
que bailam, que emanam o mesmo calor,
que saem aqui da penumbra,
quase claridade,
um misto de saudade
em traços irreverentes de angústia.
Do amanhã, apenas terei os versos,
as pautas sem fim;
da medalha, o reverso,
a oposta fidelidade ao amor.
Restarei no bastante que foi dito,
na mancha que sujou o espaço,
extinta vaga interior,
morada, tempo outrora,
que o verão levou embora
pelas enchentes da saudade.
Sim, o amor que sempre aqui esteve,
partiu antes que a primeira chuva caísse
e a solitude me socorreu antes,
bem antes da despedida no último verão,
que não nos viu juntos.