Senhoritane

Na aurora do meu bem-querer

Pequeno vazio sentia meu peito

E como o meu sentir agora

Tu apareceste e houve flerte

E tal qual o encanto em mim já feito

Desde então meu coração afora

Negou-me, Senhoritane, em t’esquecer

Encheste de ti e não julgavas saber

Do coração que me era ignorado

Do sonho que não me era sonhado

Por ter sido infantil meu perceber

E então, só eu sabia...

Adiando fiquei o dia

Pra te dizer que tanto te “tenho”

Só em mim palavra minha dizia:

“Sonhando-te há tanto venho”

Se houver mal que fiz contra mim

Perdão eu peço pelo menos, então

Porque me neguei o meu sim

Contudo, forte houve a hesitação

Vendo-te, Senhoritane, agora sei

O quanto sentimento eu não busquei

E na minha infantilidade

Não pensei que mudarias de cidade

Ainda agora insiste o coração em trança

Em te amar, por não te ter beijado talvez

E se te amei, foi Deus que assim me fez?

O rosto teu que imagino criança

Amava a inocência, seu próprio rito

Os teus cabelos, me lembro: me atraem

Como o mar, inseparável amigo

Olhando nuvens espelhadas que se esvaem

E cismando, ficando ele nesse artigo

Do teu passar por mim... Seria timidez?

Escondia-me para não te olharem

Meus olhos que já te eram fitos

Eles (ou)viram do coração a mensagem

Que tanto me fazia querer-te

Vinha desses lados a aflição

Que tanto me queria em sonhar-te

Contenho-me de outrora o coração

Haverá de tocar a minha boca a tua...

É por não ter esse tempo esquecido

Que ainda te não hei sumido

Os dias, hoje, que raramente te vejo

Provam a verdade escrita

E que ainda almeja meu coração em teus lábios

Um beijo, e em tua vida

Minha alma aspira escondida...

Mas não adianta, Senhoritane

É a vida que de sonhos (talvez) viva...

Não há consolo, quiçá esperança

Daquela aurora já rala e divisa?