"Carinhoso"

De repente a profunda carência que atravessa os sentidos.

Cabeça reclinada sobre a mesa. Fuga.

O sussurro que parecia involuntário:

"Meu co-ra-çãããão... nããão seeei pooooorrquêêê..

bate feliiiii" - um barulho. Retorno à realidade. Silêncio.

(Não estava sozinha - precisava calar!)

O pseudônimo: doce voz quebrando o silêncio

- mansinha, num suspiro; ecoando da mesa quase vizinha -

separada de mim por apenas duas cadeiras, lado a lado.

Era comigo? (Sequer chamou-me pelo nome!)

Sim, sim! Era comigo! (e o nome agora não fazia a menor diferença...!)

"Você me ouviu?" - fazia gestos para facilitar minha compreensão.

O rosto corado. (ELE? Justo ele? Não podia ser...!)

Resposta tímida (tão tímida que quase emudecida). "Não..."

"É que... bom..." (Agora a timidez parecia comum aos dois) "Foi quase ao mesmo tempo em que eu... Hm... Foi junto, sabe?"

O coração acelerado.

(Tão de repente quanto antes, a leve sensação agora

era de coração aquecido: Ahhhh, amado Poeta...!)

Num só segundo, milhares de suspiros longos se debatiam dentro de mim,

pedindo por favor para que os deixasse sair.

Pixinguinha, ah!, Pixinguinha... Obrigada, mestre querido!

Os olhares. Agora freqüentes olhares (entrecortados)...

Sorrisos. Disfarces.

Silêncio (embora os corações não parassem de cantar -

"Ah se tu soubesses como sou tão carinhoso e o muito muito que te quero..."

Não estávamos sozinhos - mas era como se ninguém mais houvesse ali.)

E como entender estes 'encontros' de olhares

que aparecem bem na hora em que mais nos sentimos sozinhos...?

(Tem horas em que parece que é a vida quem decide cantar -

e nada me tira da cabeça a idéia de que sou apenas

mais uma composição interminada do destino).

Nica
Enviado por Nica em 15/10/2007
Reeditado em 12/04/2008
Código do texto: T695629
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