CONTANDO AS PEDRINHAS
Eu andava cabisbaixo na ladeira
Com passos apressados e curtos
Eu contava as pedras, brincadeira,
Nela pensava e entrava em surtos.
Na casinha lá no morro estava ela,
Arrumada e cheirosa a me esperar.
Empolgado, eu gritava o nome dela,
E ela ouvia seu doce nome a ecoar.
Curta estrada parecia não ter um fim,
Pedras contadas refletiam ansiedade,
O cheiro dela estava todo sobre mim
No meu peito tinha amor de verdade.
E ela também me esperava ansiosa,
Na simples janela da casinha de barro,
Seu rosto meigo e ela toda dengosa
E o pai dela, bravo, fumava um cigarro.
Eu apressado, mas a noite já chegava,
Tempo fechado, mais cedo escureceu,
Fiquei com medo, pois no céu trovejava,
Pensando nela, meu coração aqueceu.
Enfim, cheguei bem perto da janela,
E meu coração emocionado bradou:
Amor! Eu nunca vi tão linda donzela!
Segurei as mãos dela e ela me beijou.
O pai dela lhe perguntou quem eu era,
E ela disse, emocionada: é meu amor.
Num piscar de olhos, pedi a mão dela,
E os olhos dela verdadeiro esplendor.
O velho concordou com o casamento
Apressado, logo comprei as alianças,
Por mais que envelheça esse momento,
Desde lá eu já pensava nas crianças.
Trinta anos de amor se passaram
E o tempo só aumentou a ternura.
Quanto mais vivemos na candura
Mais os amores se solidificaram.
Ênio Azevedo
(Mera poesia!)