Recado


Não posso mais voltar ao seio,
aos sonhos da amada
que fez da madrugada
um pesadelo,
um grito, gesto sem apelo.
Não consigo voltar,
ter inícios que iludam meu interior
que brilhou,
apagou,
na luz daquela primeira manhã,
tão vã
quanto tantas que vieram.
Não sei se posso esquecer
os segundos, cada hora
de voo rasante pelas rochas
tão duras,
escuras,
quanto as chuvas que saltaram
nublando o tempo,
fazendo inverno no verão.
Não creio que posso
afugentar as mágoas,
nem as águas
que derramei,
por onde incansável andei,
tentando esquecer
sem ter esquecido,
nem mesmo de você.