Do outro lado


Tenho que ir,
não se exaspere,
o vento levou tudo que é leve,
puro, para algures longínquos.
Vou seguir pelos canteiros
das obras, dos projetos,
pelas madeiras escoradas,
tenho que ir neste embalo
de tarde que some.
Amanhã, talvez em algum lugar
eu pare, pense
e tente buscar o retorno
ao abandono das coisas deixadas.
É o desfecho amargo,
bagagem que levo e trago
se algo voltar.
Vou tentar, não derrame,
não chore lágrimas,
não mereço enxugá-las,
bebê-las
pela frieza estampada,
bordada em meu rosto.
Cale-se a derrota,
eu fui o vencido,
agora sei, nada importa.
Se pouco importamos ontem,
hoje é agora,
momento de seguir,
ir embora,
mas, um dia, talvez
encobertos pela eternidade,
o reencontro sem divisões,
um só caminho à duas almas.