de primavera e importâncias
a arte de pegar arroz com duas colheres
em uma só mão
a arte de fazer das mãos alheias sutiã
a arte de posar junto ao seu amor
para serem fotografados
pela sinceridade de um espelho
que, mágico, aquilo eterniza
a arte de reconhecer um momento verdadeiro
a arte de jogar pingue-pongue sorrindo
sem contemplar a bolinha -
a bolinha nunca teve tão pouca importância
a arte de sentir a importância
de cada palavra dita (às vezes como música)
e, sem artifícios, chorar ao som da penúltima sílaba
a arte de fazer balé embaixo do chuveiro
e de atravessar paredes de azulejo
a arte de beijar a lágrima do ser amado
e de se deixar beijar pela arte
(gozar e chorar, chorar e gozar
dentro de um mesmo instante:
isso é para poucos)
importância, benquerença, consciência...
consciência da descoberta do bom da vida
benquerença de poesia viva sem papel ou teclado
a arte de dar importância ao que importa
a arte de pegar arroz com duas colheres
em uma só mão
então,
gentil dama e fiel cavalheiro,
eis a nova janela pras suas vidas:
a arte de acordar numa outra cidade
onde o gozo não é sonho
e a delícia
é a coisa mais possível do mundo
a arte de (re)descobrir o mundo
arroz para os famintos
capim de pousada bucólica para os famintos
cama para os famintos
palmas para os famintos
famintos, loucos e lindos
a arte de abrir os olhos
como um bebê que acaba de nascer
e deixá-los arder
com o suave fogo da primavera.