Exilado


Vou despindo a noite
sem ruas vadias, vielas escuras,
sem luminosos, nem faróis de carros.
Vou deflorando sua nudez
em silêncio, comendo seus pedaços de solidão,
resgatando fatias de saudade
do que fomos,
mesmo antes de termos sido
pertences objetivos a dois.
Vou me desfazendo das vestes
que encobrem minha nudez,
minha pele
que repele,
desgasta a angústia
neste condomínio fechado
de flores agrestes,
que já não enfeitam
as dores interioranas,
nem as mágoas suburbanas
que viajam de longe,
em mudança definitiva,
para se despirem a minha frente,
tornando-me cúmplice
e autuado em flagrante.
Mais um detento
para as solitárias frias;
como se a vida
ainda tivesse o calor de viver,
de existir para aquele grande amor.