Fez-se o amor


Existe um sabor de êxtase,
a vontade de estar
perene em algum lugar,
preso a bocas com gosto de desejo
a um ávido e sereno beijo,
meio selvagem,
o oposto
retido no rosto
quase concreto,
tudo que é certo,
os erros que cercam a vida,
escapam em metades
aninhando-se nas saudades
que brotaram da terra,
em cheiro de chão molhado,
no espaço todo espelhado,
na cobertura deste amor.
E nas ânsias azuis,
pelos olhos as cores,
do corpo todos os pendores
estendidos lado a lado na chama,
na cobertura despida da cama
se faz o tanto feito,
pelos murmúrios das manhãs,
entre trincar de avelãs
e guizos pelas ruas;
então visto-me das peles que são suas
e transponho todos os sabores
da sua boca a minha,
no penúltimo e lancinante beijo.