METADE
Minha metade flutua no ar
Leve como uma pluma
Em minh’alma a planar
Suave como uma nota musical
Delícia que me desnorteia e, se atreve,
Em emoção fenomenal
Que encanta e perfuma
Todo meu espaço
Dorido como parte amputada
Na espera do abraço
Garimpado como jóia rara
Querido em cada lágrima derramada
Minha metade mais cara
Nossos sonhos divididos
Nos toques sutis
Os suspiros sentidos
Nas palavras gentis.
Íntimos gemidos...
Calamidade, flagelo
Desejo, incêndio
Sede, secura!
Teu beijo é o antídoto,
Meu pão místico.
Em passos desencontrados
O desespero cístico
Nos lábios rachados
Vede loucura:
Abismo, tortura
Feixe de trigo não debulhado,
Nem depurado
Espírito alado...
Na distância
Sofrimento e dor.
No pulsar de Amor
Banquete divino
Nosso destino...
Minha metade adorada
Que me completa e, me faz realizada.
Marasmo noturno...
Corações atormentados.
Grito do silêncio
Grilos alucinados
Trânsito da noite
Metades...
Dor, açoite...
O desejo primeiro
Um coração doente...
Nesse querer em exagero
Amar somente
Ah, quanta saudade e desespero...
Fuga ao cativeiro
Metades...
Num queimar inteiro!
Mas, assim, tão de repente...
Minha metade, por que me estranhas?
E, em tua liberdade latente,
Abandonas minhas entranhas
Fazendo-te ausente...
E, tua ausência é dor em contração.
É dissolução da carne
Não mais adoça
Antes, promove a transmutação
Da espera em desesperança.
Não sabes que eu não desisto?
Devolva minha esperança
Porque eu clamo, digo, repito e insisto:
Tu és tudo o que mais Amo!