Cansei-me do Bom Coração
Cansei-me do bom coração.
Vencido, assim, pouco a pouco,
pela humana frieza do não,
que cala-me à atroz solidão
em ecos malditos que ouço!
Onde está você, indivíduo?
Será que está morto,
Será que está vivo?
A desgraça nunca ultrapassa
às mentiras que ainda insistimos.
Para não crer a tragédia humana
e assumir um crime, ou castigo,
como posso assim eu viver
sem nunca podido querer
um dia sequer ter nascido?
Ah, cansei-me do bom coração,
do olhar pueril e bondoso
que via em gotas da chuva
sementes de água formar
um mar maior que esse poço...
profundo, seco e árido,
sorvido de luz pelos dias,
eu vejo minh'alma no mundo
tão pálida num corpo obscuro,
bater no coração que batia!