Cansei-me do Bom Coração

Cansei-me do bom coração.

Vencido, assim, pouco a pouco,

pela humana frieza do não,

que cala-me à atroz solidão

em ecos malditos que ouço!

Onde está você, indivíduo?

Será que está morto,

Será que está vivo?

A desgraça nunca ultrapassa

às mentiras que ainda insistimos.

Para não crer a tragédia humana

e assumir um crime, ou castigo,

como posso assim eu viver

sem nunca podido querer

um dia sequer ter nascido?

Ah, cansei-me do bom coração,

do olhar pueril e bondoso

que via em gotas da chuva

sementes de água formar

um mar maior que esse poço...

profundo, seco e árido,

sorvido de luz pelos dias,

eu vejo minh'alma no mundo

tão pálida num corpo obscuro,

bater no coração que batia!

Igor Calazans
Enviado por Igor Calazans em 12/05/2020
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