Talvez

Talvez te escreva eu os versos mais tristonhos

Dos sonhos meus, distantes.

Tão longe jaz também a realidade...

Saudade! E o meu semblante é enfadonho.

Talvez me caia a noite n’alma ao te lembrar,

Ficar a dedilhar estrelas

E sempre ao descrevê-la, pois, chorar...

Porém, quem sabe, um dia eu hei de tê-la

E convertê-la em mim

E em nós sermos o mesmo fim?

Talvez eu deixe a cruz deste invisível beijo,

Cortejo entristecido.

O amor é gota d’água em meu deserto

Tão certo e combalido, um frio despejo!

Talvez, ao desdobrar meu tempo à tua busca

Na brusca morte dos meus dias

Eu ame a sombra fria que me ofusca...

A nuvem do presente a companhia

Não vem vazia, em vão.

É única e me estende a mão!

Talvez eu pense ou sinta a súplica ouvida,

Erguida assim, a ti,

E insípidas, sonoras vão as lágrimas

Nas trágicas ruelas da desdita.

Mas mesmo na saudade de algo que não tive

E vive em mim como um passado,

Teu nome, a tua rima me redime...

E ainda que não sejas minha em vida

Serás, querida, em tema,

Eterna aos versos do poema...

Pinguinho Neto
Enviado por Pinguinho Neto em 11/05/2020
Código do texto: T6944198
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