Talvez
Talvez te escreva eu os versos mais tristonhos
Dos sonhos meus, distantes.
Tão longe jaz também a realidade...
Saudade! E o meu semblante é enfadonho.
Talvez me caia a noite n’alma ao te lembrar,
Ficar a dedilhar estrelas
E sempre ao descrevê-la, pois, chorar...
Porém, quem sabe, um dia eu hei de tê-la
E convertê-la em mim
E em nós sermos o mesmo fim?
Talvez eu deixe a cruz deste invisível beijo,
Cortejo entristecido.
O amor é gota d’água em meu deserto
Tão certo e combalido, um frio despejo!
Talvez, ao desdobrar meu tempo à tua busca
Na brusca morte dos meus dias
Eu ame a sombra fria que me ofusca...
A nuvem do presente a companhia
Não vem vazia, em vão.
É única e me estende a mão!
Talvez eu pense ou sinta a súplica ouvida,
Erguida assim, a ti,
E insípidas, sonoras vão as lágrimas
Nas trágicas ruelas da desdita.
Mas mesmo na saudade de algo que não tive
E vive em mim como um passado,
Teu nome, a tua rima me redime...
E ainda que não sejas minha em vida
Serás, querida, em tema,
Eterna aos versos do poema...