Maternidade
O óvulo, o ovo, o embrião,
e por fim: um ser.
O líquido da vida, o leite,
a oferta do seio.
O instinto e o carinho afetuoso
de amamentar.
Cerca o rebento
com seu bálsamo, doce amor.
Olhar fixo, imantado
ao botão de existência.
Olhos de quem compartilha
o poder de criar.
Elementos da natureza:
ar, fogo, água e terra,
e do pó foi feito,
e o pó foi fertilizado em terra,
e o fogo santo criou as águas
da nascente da vida.
A troca de fluidos
são energias físicas e etéreas.
O cordão umbilical, a placenta,
o colo biológico.
Natureza criando, terra gerando
e mulher cuidando.
E do ar veio a semente da graça,
e então o nascer...
De repente o grito de aviso
de quem chegou.
Mãe e seu filhote,
criatura se fazendo pela criação.
Mãe, madre, mother...a palavra ‘mãe’....
Mãe que está na cordilheira
a cercar o horizonte.
Como a cercar seus filhos
a brincar em seu ventre.
Mãe, expressa em gênio
nas fases da lua:
Crescente, Nova, Cheia e Minguante.
A se renovar na fugacidade,
pactuando com a eternidade.
Às vezes bela, às vezes triste,
mas sempre sendo
mensagem de esperança.
Vigia e é guardada
no coração da criação,
pois é mediadora
do poder de recriar.
É vida recriando, nova vida,
num ciclo incessante de regeneração,
onde o construir se opõe à destruição.
Sinônimo de vida,
seria sua melhor definição.
Não é um simples estado biológico,
é essência que está
nos contornos suaves da alma.
Mãe é antes estado de espírito.
A natureza guarda na fria terra
o calor das lavas,
eis a reserva dos elementos químicos
do mundo.
A mulher, em seus ovários,
os elementos da vida,
Seu sagrado útero,
o primeiro de todos os colos.
Mulher é tempestade
e brisa calma que acalenta.
Mulher que é mãe
é bafejar do sopro da criação,
é brisa leve que conhece
os mais sublimes sentimentos.
É a descoberta do lado mais limpo
e puro de seu coração,
pois comunga com a própria criação,
num despojar de si pelo outro.
Nada pede,
apenas espera pacientemente
que o amor se faça semente.
Mãe mulher, jovem, madura e senil.
Despreza o tempo, pois haverá
de viver sempre na lembrança.
Mãe real, possessiva, dona de sua cria.
Será desprendida,
como a águia que quer
que os filhotes voem.
E vivem o apego e a liberdade,
a posse e a libertação.
Única e tantas ao mesmo instante.
Com sua fragilidade a fazê-la forte,
com sua doçura a domar a força,
pois tem o destino da brisa mansa
que abranda
os transtornados vendavais.
Gira o planeta Terra,
mudam nos céus, as constelações,
Surgem quadros, pinturas,
esculturas, versos...
Mas ainda não surgiram tintas,
imagens ou palavras
que consigam recriar
a geradora da vida.