Palavras, palavras, palavras




A mão, a menina, o papel,
o véu,
o laço, o lenço, o apelo,
a voz, a mecha, o cabelo
contra o rosto, contra a vida.
A luz, o poema, a história,
a farsa resumida,
a glória, a conquista,
a perda, a febre, a derrota.
A mão, a menina, o papel,
já sem o véu,
aliada aos descuidos,
ao infinito espúrio,
azuis sem azuis,
sem cores, nem amores,
pintada com decoro,
com mãos ultrajantes
nos berços requintados,
nas formas de tantos pecados.
Papel, mão, menina,
fluxo que vai e vem,
balança, passeia na retina,
cai na saudade;
lirismo que se faz em chuva,
molha meu rosto, sua meu peito
adormecendo em cada verso,
quando acordo nos acordes da manhã
com mãos vazias, papéis rasgados
e a menina ainda brilhando nos olhos.
Olhos de vento, olhos de chuva,
duas partes de um grande amor
na metade de nossas vidas.