sem pudor


Enquanto o mundo se extermina
neste carnaval de desamor,
nesta festa pagã de desquites,
separações voluntárias,
minha pena desliza pelo papel sem dó,
sem pena deste mundo cego
que não vê, não entende a flor,
o rasgo descontraído daquele sorriso,
do afago feito brisa, de repente
espontâneo, delicado na tez macia.
Minha pena passeia e te procura.
Quero quitar os pecados, erros,
silenciar toda poesia,
quero ser o único, incoerentemente.
Apenas que fique minha palavra,
ela é eterna, pura, real,
cristalina como a fonte,
ávida para correr em sua boca,
mergulhar neste interior
oculto deste mundo aniquilado.
Como eu queria construir refúgios,
esquecer que a vida passa, existe,
que não somos o tanto que pensamos ser,
o que supomos em falso poder.
E o mundo gira, rodopia,
estonteante, a humanidade se consome
na guerra, miséria, fome,
desencontros, prazeres fictícios,
enquanto galopo no dorso dos poemas,
trocando, jogando palavras aos teus olhos;
embora nunca lidas, são tuas,
pertences únicos de amor que nunca tivestes,
nesta pretensão soberba de ter sido...
Seu único poeta.