Herança


Leva as horas, o tempo,
o vindimo que carrego,
o abraço falso do existir
no beijo que o vento balançou na boca.
Leva o dom do amor
na incúria, pelo fato
de ser sem ter tido
a alma repleta,
o poderio para cativar,
ser cativo ao hábito,
ao menos ao hábito
de ser, poder fazer alguém,
supostamente alguém
acontecer infinitamente
em mim... Na vida.
Leva a prece,
o dom do pecador,
em relatar,
implorar... Conquistar auxílio,
mesmo que
seja breve a dor,
como fostes pelo amor.
Leva nas ancas do vento,
no dorso da noite,
no âmago da madrugada,
toda a saudade pra longe,
antes que...
Chova em meus olhos
a prata que sinto por você,
que levo de volta de onde viemos,
daquele janeiro que o tempo não levou.