Decepção




Apenas uma informação
cedo, manhã pelo portão.
Era doce o sorriso dela,
meigo, talvez amarga a voz,
como tantas buscava um emprego.
Seus olhos claros,
cabelos pelo rosto,
vento em desalinho
penetravam em sua blusa,
onde meus olhos já descansavam.
Sua boca falou, quase em beijo,
em forma, pronta,
sussurrou apenas a oferenda
num toque ansioso,
meio com medo,
quase segredo.
Recebeu a negativa
tropeçando nos vocábulos,
agitando os cabelos,
mesmo antes que a chuva os molhassem.
Ficamos mudos,
entregues ao tempo,
ao diário que passava pelas mãos
gravando tudo,
uma sequência de fatos,
que em atos
seríamos presos para sempre, talvez.
Ela seguia a rua
quase descoberta, nua,
pelos meus olhos que a despiam,
lenta e ardilosamente,
para minha sede de pecador
que feliz ou infelizmente ela não descobriu,
para meu desengano.