Transparência






Eis a fumaça que sobe,
foge, escapa pela janela,
esgueira-se entre as sombras;
é a fuga de nós.
Ela foge, você fugiu
e eu tento saltar as barreiras
que seguem um lento caminhar,
lado a lado,
passo a passo, rebuscando meu vazio,
semeando malícias,
abandono pelas causas,
fuga das coisas que perduram,
machucam, ferem,
sangrando a alma.
Findamos um abismo
coberto pelos sonhos que já não tínhamos,
pela fé que se esgotou
avariada pelo tempo,
pelas intempéries naturais.
Já não temos,
e do muito que tivemos,
somente eu, talvez por descuido,
os resgatei.
São pertences
que pairam pelo ar,
ficam, ficam
e não acompanham a fumaça
que se mistura às sombras,
fugindo como você o fez
outras vezes,
mas desta, certamente a última vez.