Palavreado de Cordel

Tô que afrontado se eu não palavrear do sertão,

O sertão é igual a homem sem anjo de guarda mede o medo,

Nas entranças, nas palmas do buriti degolado de seca.

Pra piorar tudo, tem a muriçoca que faz pasto nas costas.

Eita gente ensolarada de quentura, e fome esfarinhada.

Onde arranjar jeito de fazer poema é somente no sofrimento,

Na bexiga da peste, da seca, em que até a sombra da gente se esconde atrás do corpo empoeirado de tristeza.

La pras noites onde o frio se aboleta devagar nas galhas fantasmas,

Procuro azeitar os olhos na negritude da esperança que nunca vem.

De vez bato as pestanas

Para ludibriar a seca cavernosa de longos séculos AMÉM.

Raí nonato

demetrioluzartes
Enviado por demetrioluzartes em 29/04/2020
Reeditado em 04/05/2020
Código do texto: T6931717
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