O poeta

O poeta!

O que dizer a uma filha que não pôde velar os seus pais no último adeus?...

Que poema declamar

para uma mãe que enterrou o único filho numa cova rasa?

A poesia está morrendo sem ar, será? Está.

O que teria dito o poeta Carlos Drummond de Andrade aos familiares de 2.400 pessoas que morreram em um único dia? Diria:

Os corpos  se despetalam e seguem juntos, numa jardinagem infinitamente formada e coletivamente original, para se perpetuarem no além!

A poesia caminha ao lado, o poeta não.

O poeta obedece as leis imutáveis da comunhão divina.

Uma veste, um manto

Um reza, um pranto

Uma cova, um corpo

Uma vala, o espanto

O silêncio, o recolhimento.

A tempestade arde e espalha e acolhe todos os filhos para o afago  dos encantos na casa suprema do Criador!

Lázaro zachariadhes
Enviado por Lázaro zachariadhes em 28/04/2020
Reeditado em 28/04/2020
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