O poeta
O poeta!
O que dizer a uma filha que não pôde velar os seus pais no último adeus?...
Que poema declamar
para uma mãe que enterrou o único filho numa cova rasa?
A poesia está morrendo sem ar, será? Está.
O que teria dito o poeta Carlos Drummond de Andrade aos familiares de 2.400 pessoas que morreram em um único dia? Diria:
Os corpos se despetalam e seguem juntos, numa jardinagem infinitamente formada e coletivamente original, para se perpetuarem no além!
A poesia caminha ao lado, o poeta não.
O poeta obedece as leis imutáveis da comunhão divina.
Uma veste, um manto
Um reza, um pranto
Uma cova, um corpo
Uma vala, o espanto
O silêncio, o recolhimento.
A tempestade arde e espalha e acolhe todos os filhos para o afago dos encantos na casa suprema do Criador!