Dói-me, dói-me, moça bela
Dói-me, dói-me, moça bela
tão singela e tão donzela
quando acordo e não te vejo,
não te beijo, não te abraço.
Eu procuro, eu te desejo,
em lamúria eu me desfaço.
Lá do céu ou cá da terra,
todos olhem minha guerra.
Velho estou a cada dia,
já faz anos que te espero;
outros mil eu te daria,
mas mortal me considero.
Dói-me, dói-me, moça bela,
passo a vida na procela.
Todo o tempo solitário
nunca hei de ver de novo,
mas meu sonho é meu fadário,
na promessa eu me comovo:
teu perfume que me engraça,
teu cabelo que me enlaça,
tua mão que é como fogo,
tua voz de rouxinol,
teu olhar que é como um rogo,
tua luz que ofusca o sol!
Dói-me, dói-me, mas do gozo
que é o tamanho privilégio
de aguardar meu sonho egrégio.
Nesse dia venturoso
toda a espera esquecerei;
todo o tempo agarrarei
nesse dia venturoso.
24/04/2020