Réu Confesso
Sim, Meritíssimo Juiz
Tenho culpa, eu confesso!
Sei que foi errado o que fiz
Mas não me julgue ainda, lhe peço
Deste pobre ser desencantado
Devastado e sem nenhuma memória
De algum passado com amor guardado,
Eu suplico, escute agora a história
Se alguém rouba um pão
Porque precisa comer
Merece ele a prisão
Por tentar sobreviver?
E se alguém com este pão
Com o pecado mata sua fome
Não mereceria o perdão
Pelo crime da miséria infame?
Pois bem, Meritíssimo
Meu pecado não é diferente
Sei que é um caso raríssimo
E difícil para quem não o sente
É que no constante desemparo
Dia e noite vivendo à procura
Do sentimento mais puro e raro
Acabei por cometer tão vil loucura
Excelência, por favor, entenda
Por crer da vida não me restar nada
Numa busca do amor desesperada,
Me envolvi nesta sensível contenda
Por isso, Sr. Juiz, o perdão almejo
E, por Deus, clamo piedade!
Admito, da minha amada roubei um beijo
Mas foi do amor a mais pura necessidade.