BALADA DE OUTONO
(À minha querida esposa Ionilda)
Ouço o vento sussurrando na planície...
Caem as folhas das árvores antigas...
Ruge o mar em tenebroso augúrio,
e o teu vulto me acompanha docemente
como a estrela iniciática do espírito...
Vacile o passo e sucumba o pensamento
a tua visão me sustém a cada instante
com teu suave e doce amor...
Na sagrada relíquia do meu peito
tua imagem vagueia silenciosa...
Nessa angústia que sinto dentro d’alma,
nessa ânsia de ter-te junto à mim...
qual aurora fulgurante de desejos,
eu me abismo em trevas exteriores
quando estou longe de ti...
Esqueçamos soluçando as duras penas...
Dá-me, pois a tua mão e caminhemos
de mãos dadas, longamente!
Essa eterna e atribulada caminhada,
pelas eras mais remotas do infinito...
Ionilda! Anjo tutelar da minha vida!
Tens a doce melancolia das tardes hibernais
e na angústia silenciosa do teu gesto.
a tristeza incompreendida das agrestes penedias...
A beleza suave do teu rosto,
a meiguice brejeira dos teus olhos
são as chamas que aquecem a minh’alma
e me enlevam num sonho de rapaz...
Ionilda!
O teu nome ecoa
dentro em mim
nas cavernas primitivas
do meu Ser...!
(Montenegro-RS, 19/01/1969)