Note-me

Olhe-me com olhos de distância

De alguém que quer reconhecer

O que mal se sabe conhecer

Olhe-me com precisão e cautela

Da pessoa noturna e imperfeita

Da vida que se fez inteira

Ou um conjunto de pequenas partes

Grande quebra-cabeça

Olhe-me, mas veja-me bem

Porque, dessa vez, estou a me olhar

Como se fosse você, porque somos

Reflexo do mutável

Desde o primeiro choro

Desde o inicial entendimento

Do nosso outro

Eu, água

Terra em tantos espaços de mim

A água que escapa do seu rio

Nascente que se estendeu sem fim

Olhe-me

Vejo-lhe há tanto tempo

E, há tempos, entendo que vamos

Sim, é desse jeito

Movemo-nos

Eu espero

Por isso, olhe-me

E, desta vez, enxergue-me.

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 16/04/2020
Reeditado em 17/04/2020
Código do texto: T6918660
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