Note-me
Olhe-me com olhos de distância
De alguém que quer reconhecer
O que mal se sabe conhecer
Olhe-me com precisão e cautela
Da pessoa noturna e imperfeita
Da vida que se fez inteira
Ou um conjunto de pequenas partes
Grande quebra-cabeça
Olhe-me, mas veja-me bem
Porque, dessa vez, estou a me olhar
Como se fosse você, porque somos
Reflexo do mutável
Desde o primeiro choro
Desde o inicial entendimento
Do nosso outro
Eu, água
Terra em tantos espaços de mim
A água que escapa do seu rio
Nascente que se estendeu sem fim
Olhe-me
Vejo-lhe há tanto tempo
E, há tempos, entendo que vamos
Sim, é desse jeito
Movemo-nos
Eu espero
Por isso, olhe-me
E, desta vez, enxergue-me.