Posse






Nesta noite mais uma vez
chegas ao meu quarto.
Estás totalmente despida,
afeita, pronta, acesa;
buscas companhia alheia a querer,
não fazes perguntas, não respondes,
apenas te alojas indevidamente,
quase que ironicamente
em meu todo.
Recebo-te sem clamores
sentindo o peso, o jugo do teu jogo
numa troca de traços,
fazendo perfis nas paredes
desenhando lances transitórios,
misturando-te a fumaça esguia
que lentamente sobe do cigarro.
Suspiro em frente ao sono
pelo cansaço despojar-te,
deixar que tua nudez te vista,
que a noite te deflore, rompa teu véu
e faça de mim um esquecido,
um último solitário,
e que jamais venhas deslumbrar,
cobiçar minhas noites
tão cheias de ingratas, imaculadas,
incautas, indecisas indevidas.
Vindas erradas em horas certas
e ainda queres em certas horas
fazer teus erros, jogar teu jogo
no teu campo, no teu espaço
de insônias e desditas.