Reza da cela
Vejo o balanço das folhas no espelho;
Árvores verdes
Fincam a terra do Barro Vermelho.
Entre paredes
Sonho os teus olhos e abraços:
Toco os teus traços
Nestes meus versos que lambem teu rosto,
Ah, meu carinho disposto,
Por esta pele, esta vida, teu gosto,
Doce melaço...
Mas meu amor, tu não vês, tu não sabes,
Que eu te venero,
Todo de amores da cela, das grades,
Deste castelo
Rude, distante e sem cor:
“Deus, meu senhor,
Peço-te, tragas a chave, a abertura
Desta angustiante fortuna;
Ouças a prece da busca futura,
Reza do amor...
Vejo estes olhos da cor da esperança,
Olhos de mares!
Quero pra sempre ser visto na dança,
Destes olhares!
Mas tu precisas trazê-la
Como uma estrela
Que abre um caminho de luz, uma vida,
Fecha e cura a ferida
Deste negrume que a cela me priva
Por eu não vê-la...”