Olha


Vês, hoje quem te fala,
molha, lamenta em teu retrato,
se cala.
Vês, são refúgios
que busquei na vã esperança
de tê-la somente na lembrança,
esquecendo-me da saudade.
Vês, foi inútil tentar
fazer da vida uma breve passagem
de olhos fechados, sem surpresas,
sem mistérios.
Vês, foi em vão
fazer do medo a retirada,
a fuga covarde contra a guerra.
Vês, olhe pelo retrato,
pelo meu nome
que fala e responde,
que busca não sei onde
as falsas, hipotéticas versões
que a vida me faz
sereno, tentar no silêncio a resposta,
a palavra criativa
que te mostra altiva,
furtada das sombras, solta,
faceira em plena folia
na ciranda do dia após dia,
presa à minha paz;
sem os limites para ser
quem fomos,
sem as muralhas para ter
tudo que não tivemos
além da vida,
antes e depois do amor.