Aprisionado










Pelas noites quietas algemado,
perscruto o amplo cerco que me rodeia,
sem saber se o amanhecer há de vir,
e se estarei ainda amordaçado
pelos véus da insensibilidade humana.
Logo estarei noite adentro só
arrastando um pouco de mim pelo pó,
um tanto de mentira, um tanto de verdade
que se mostra e sempre me engana.
E já pela madrugada envolto,
retido pelas cobertas da noite,
também o silêncio se faz presente,
quebrado agora, pelo vento contra a vidraça
que rodopia, emudece, me consola, me abraça.
Assim meus olhos amanhecem,
lá fora um raio de luz,
aqui um escuro penetrante,
um soluço ávido que conduz,
que lentamente carrega um mundo de lembranças,
que surpreende uma vida todas as manhãs,
negando, vetando todos os passos,
sem mostrar sequer, uma gota de esperança.