MÁQUINAS AFETUOSAS

O homem com a perna direita mecânica

A máquina com a perna esquerda humana.

A boca de borracha

não beija mais a outra,

carne exposta aos dentes

e o nunca mais

é uma ideia inteligível.

O homem com a perna mecânica

percebe a máquina sem óleo.

A máquina deita na cama

traz a sua perna humana e feminina.

Escuta-se um estalo,

isso é o máximo agora.

O homem dorme

com sua perna mecânica

e durante a noite

rostos são plugues no meio dos sonhos.

Isso também é o máximo agora,

embora pelas ruas ele veja olhos de plástico

e ainda possa oferecer os seus músculos.

O homem não os ofereceu ainda

porque ele e a máquina

ainda dormem na mesma cama

e a máquina perde fios de cabelo.

O homem quase entende aquilo:

fios grudam em suas mãos.

São cabelos perdidos

que significam algum perdão,

alguma ininterrupção.

O homem tão frágil ainda não sabe,

todo aparelho quebradiço

é inutilmente receptivo.

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 08/04/2020
Reeditado em 26/01/2024
Código do texto: T6910085
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