Cantilena


Eis a fonte dos meus amores,
o campo vasto dos sonhos,
lugares onde percorri em busca da paz.
Eis os laços dos meus desejos,
pendidos já pelos dissabores,
arrebatados pelos ensejos
que não foram tão gratificantes.
Eis as cantilenas saudosas
soando em meus ouvidos,
vagueando nas ruas desertas, interioranas,
entediando períodos vencidos,
vencendo passo a passo a vida.
Eis a página, antes branca,
maculada pela sensibilidade sofrida
que navega a procura de tudo;
uma fração de segundo, de lembrança
deste mundo que me fez esquecido.
Eis o lamento triste da derrota,
a vitória sem definições do vencedor
que viu pender a própria razão
na inquietude humilde do perdedor.
Eis o fruto de tanta angústia
nas manchas da pauta, a tinta;
na solitude a noite se faz,
se fazendo apenas, em mais um poema
dentre tantos já escritos, entre tanta coisa extinta.