Fui descoberto
Fui ontem, fui manhã,
na noite fui sempre mais um.
Fui tarde, fui calor,
no tempo, fui apenas composição.
Fui inverno, fui neve,
na paisagem fui brancura.
Fui luz, fui fogo,
no dia, mais um clarão.
Fui tudo, não fui nada,
nada fiz, nem de ninguém.
Fui pelo mundo, pelas portas a passagem,
pelas águas me banhei,
pelas noites fui inquieto,
pela vida, só chorei.
Pelo vento fui levado
ao sabor da passarada,
pela chuva encontrei
a doce e fiel amada
que se foi, mas eu não fui,
que se abriu em gargalhada,
de tão fiel fiquei sem rumo,
sem manhãs e sem dormida.
E dizer que tanto fui,
que fui gente bem amada;
vi as portas serem abertas,
do que fui, hoje... Sou nada.