Tresloucado

Sou fruto do fastio da espera,
do cansaço da ausência,
o resgate das emoções
em cada furo de reportagem,
pela manchete, pela coragem.
Sou grito de largada,
nunca, nunca chegada.
Nas ruas da poesia,
o número zero marca minha passagem.
Ser espera,
chegar sempre na periferia da fronteira,
cruzar seu centro ótico,
morar perto do mar, ao lado da curva,
da volta que faz o retorno,
no absurdo abraço
que faz do vazio seu contorno,
é sonho, é suco de saudade,
coquetel que derrama boca abaixo
enquanto chegam os vencedores.
Sou sem sol,
lua é sobremesa abastada,
minha mesa é nublada
pelas cortinas condensadas das nuvens,
eu gosto mesmo é de chuva,
muita chuva, para não receber o bronze,
nem o ouro do sol.
Sou fruto da espera,
ganho ausência sem precisar dos treze pontos,
sou feito de crônicas
irônicas,
ou mesmo furados contos,
medíocres como fui pelo hoje
e um confesso atrofiado cerebral.