NÃO HÁ SOBRAS
E foi isto mesmo,
aos trancos e barrancos:
a tartaruga no fundo do mar
com o canudinho no nariz
filmada em documentário
preto e branco.
Foi assim mesmo:
aos trancos e barrancos
sobramos nós
já como sombras;
como nudez de meretrizes
sem pernas e braços
deitadas nas calçadas,
a espera de clientes
roxos de desejos.
Foi desse jeito mesmo,
aos trancos e barrancos
chegamos aqui.
A tartaruga com o canudinho no nariz,
queria ter sido porta- bandeira
de uma escola de samba,
mas um ser improvável também está em nós
nesse carnaval de cotonetes azuis,
os algodões das pontas
enterram nossas orelhas.
Tudo agora é espesso
e unido
como uma alegoria.
DO LIVRO: NOVA MECÂNICA