NÃO HÁ SOBRAS

E foi isto mesmo,

aos trancos e barrancos:

a tartaruga no fundo do mar

com o canudinho no nariz

filmada em documentário

preto e branco.

Foi assim mesmo:

aos trancos e barrancos

sobramos nós

já como sombras;

como nudez de meretrizes

sem pernas e braços

deitadas nas calçadas,

a espera de clientes

roxos de desejos.

Foi desse jeito mesmo,

aos trancos e barrancos

chegamos aqui.

A tartaruga com o canudinho no nariz,

queria ter sido porta- bandeira

de uma escola de samba,

mas um ser improvável também está em nós

nesse carnaval de cotonetes azuis,

os algodões das pontas

enterram nossas orelhas.

Tudo agora é espesso

e unido

como uma alegoria.

DO LIVRO: NOVA MECÂNICA

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 26/03/2020
Reeditado em 01/11/2024
Código do texto: T6897696
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