COMPROVAÇÕES

O amor entre um casal

quando termina enfim,

logo aceita à mágoa.

A mágoa,

cruel, lenta e crescente.

Tão longe do ódio que descarrega,

tão longe da suprema ironia

que está a um passo do esquecimento

ou daquela pena esporádica

que fecha o ciclo.

Mas é a mágoa o ser imenso,

a curvatura do planeta,

medonha,

sensação mais próxima

do centro do labirinto.

E o que fazer então

para chegar ao ódio

(ódio em um registro

definindo tudo:

filhos em algum lugar,

vida que segue).

quando é a mágoa antes

que traz o desgosto

pelo tempo perdido;

acredita no riso movediço

de quem se ama

quando, na verdade, o outro

mexe-se no fundo

do seu rio caudaloso de desprezo.

Mágoa pelo ridículo,

de quase ter parido

outro ser horrendo,

reatamento,

sem saber que o ódio que virá

será lindo e atuante,

ator em um palco onde flores abrasarão.

A mágoa tenta falar,

ela não sabe

porque sempre falava por dois:

não queremos, não compraremos,

nós temos, nós iremos.

Como mudar agora

depois da união

ou da cerimônia?

É melhor se calar,

com o tempo algo sempre ocorre:

o disparo da audácia,

a intuição do desfecho,

o primeiro lance redentor,

a menção:

“Para mim, nada existiu!”

do livro: As sondas amam

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 06/03/2020
Reeditado em 04/04/2020
Código do texto: T6881365
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.