A delícia do meu próprio amor
vivo a delícia do meu próprio amor
vez e outra ainda escorrego
mas tropeçando, vou
sem medo das novas feridas
respeitando-me cada vez mais
zelando pelo meu carinho
guardando minhas mãos para quem as quer
mais revoltada do que já estive
e mais alegre ainda
alegria fruto dos dias cinzas
de quando procurei o amor fora
de quando achava que os outros bastariam
que alguém me salvaria
hoje, eu me salvo
me afogo, e impulsiono a volta
cuido de cada centímetro meu
de dentro
de fora
quando passo em frente ao espelho
percebo que meu sorriso é outro
é largo
é seguro
minhas lágrimas são força
água que rega minha terra
gosto de me ver chorar
meu corpo nunca foi tão bem tratado
minha pele nunca foi tão acariciada
minhas curvas nunca foram tão valorizadas
agora, pra me sentir
precisa ser muito
precisa ser mais
porque sozinha, eu me viro
e amores mornos não me interessam
convenço-me de minha capacidade
intelectual de refletir à vida
e ser dona e protagonista dela
na poesia desestruturada
vou traçando meu caminho