TODAS AS MULHERES
Na Áustria
frente a uma loja em Innsbruck
encontro em negro mármore
a escultura de uma mulher incompleta
Mais completa a obra que a Criação
Perfeição maior que Rodin Donatello Bernini
Sobre base de granito
menor que um busto é um dorso caído
Retrato da humanidade desamada:
Braço esquerdo estendido feito travesseiro
à cabeça mais caída do mundo
O direito curvo e solto ali por estar ali
Monumental escultura
Como se Cristo súbito se plasmasse
de par com uma moça em valsa de quinze anos
A neve da noite acumulou-se sobre a obra
O vento da manhã soprou o excesso
talhando camada de alvura
sobre a mulher em mármore e negritude
Parece o gelo nos cumes das montanhas francesas
que vi há pouco na vinda para cá
Na dor do dorso vi três Marias:
A Virgem Minha Mãe Minha irmã
Mortas
Outras cinco me emprestaram seios e sobrevida
Mães de leite
revezavam-se na amamentação do faminto
Catarina Eva Dorotéia Olga Alvina
Sempre cuidado
senti no abandonado dorso de mármore e neve
o padecimento das mulheres
As escravizadas por amores brutos
As rebeladas russas em 1917 cobrando dignidades
Maria da Penha e todas as feridas pelo desamor
As desatinadas paixões que não consegui retribuir
O longo peregrinar por nomes e tempos ensina:
Mulher
Guardar amar proteger
até onde alcancem braços e versos do poeta
Desde menino
fui cuidador do que carecia zelos de homem:
Cruzava rio perigoso
para buscar do mato a lenha seca a precário fogão
Trazia alimento àquela mãe e filho abandonados
Mulher do meu primeiro espasmo de guri
fiquei dias cheirando em mim o cheiro dela
Na dor do dorso austríaco vi três Marias
e cinco Mães de Leite
Já em Eva notei a desigual luta feminina
Misérias talham honra de menino homem poeta
Busco abarcar com zelos de grandes asas
as necessitudes de Marias e Mulheres
Cedo descobri
O alimento que mais milagra é o amor
Na Áustria
frente a uma loja em Innsbruck
encontro em negro mármore
a escultura de uma mulher incompleta
Mais completa a obra que a Criação
Perfeição maior que Rodin Donatello Bernini
Sobre base de granito
menor que um busto é um dorso caído
Retrato da humanidade desamada:
Braço esquerdo estendido feito travesseiro
à cabeça mais caída do mundo
O direito curvo e solto ali por estar ali
Monumental escultura
Como se Cristo súbito se plasmasse
de par com uma moça em valsa de quinze anos
A neve da noite acumulou-se sobre a obra
O vento da manhã soprou o excesso
talhando camada de alvura
sobre a mulher em mármore e negritude
Parece o gelo nos cumes das montanhas francesas
que vi há pouco na vinda para cá
Na dor do dorso vi três Marias:
A Virgem Minha Mãe Minha irmã
Mortas
Outras cinco me emprestaram seios e sobrevida
Mães de leite
revezavam-se na amamentação do faminto
Catarina Eva Dorotéia Olga Alvina
Sempre cuidado
senti no abandonado dorso de mármore e neve
o padecimento das mulheres
As escravizadas por amores brutos
As rebeladas russas em 1917 cobrando dignidades
Maria da Penha e todas as feridas pelo desamor
As desatinadas paixões que não consegui retribuir
O longo peregrinar por nomes e tempos ensina:
Mulher
Guardar amar proteger
até onde alcancem braços e versos do poeta
Desde menino
fui cuidador do que carecia zelos de homem:
Cruzava rio perigoso
para buscar do mato a lenha seca a precário fogão
Trazia alimento àquela mãe e filho abandonados
Mulher do meu primeiro espasmo de guri
fiquei dias cheirando em mim o cheiro dela
Na dor do dorso austríaco vi três Marias
e cinco Mães de Leite
Já em Eva notei a desigual luta feminina
Misérias talham honra de menino homem poeta
Busco abarcar com zelos de grandes asas
as necessitudes de Marias e Mulheres
Cedo descobri
O alimento que mais milagra é o amor